DIÁRIO DA ALICE, MÃE DO JOÃO E DA HELENA

Nesta obra temos o estilo diário em sua escrita, no entanto, atravessado por outros gêneros textuais, como o conto, o poema e o ensaio. A heterogeneidade dos fragmentos é amarrada pelo seu subgênero textual, autoficção. Alice é mãe de duas crianças pequenas, João e Helena, filhos de pais diferentes, com personalidades diferentes, mas que trazem em comum a marca da ausência. Sozinha no Rio de Janeiro, com duas crianças e um gato chamado Monet (seu terceiro filho), a jovem mulher de 26 anos tenta dar conta de cuidar das crianças, do gato, das revisões textuais - que representam seu trabalho, e do desejo de conciliar tudo isso com a pesquisa acadêmica. Os fragmentos aparentemente desconexos do bloco diário, este identificado por “datas rasuradas”, representam as tentativas de produção textual de Alice em meio a sua rotina turbulenta. Apesar da predominância do gênero diário, o livro é inaugurado pelo conto Era concreto, era verão, escrito em terceira pessoa dando uma visão externa do calor, do cansaço e do desespero pelo qual passa a jovem. Em seguida, começa a escrita corriqueira do diário, necessariamente em primeira pessoa e necessariamente confessional, já que a personagem está constantemente confessando a rejeição, não necessariamente por seus filhos, mas por sua própria imagem de mãe.