DAS ILUMINURAS À LÂMINA

"Contada em quatro atos, a bela jornada lírica de “Das iluminuras à lâmina”, livro de estreia de Magna Maricelle, atravessa o ciclo da existência de forma visceral, do momento em que um pequeno ser desce do útero e rompe a fenda da mãe ao instante em que, debilitado, vira carne morta. No primeiro ato, a vida brota em meio a estilhaços, mísseis sobrevoando o céu, sangue sobre a terra. Vem à luz uma criança entre soldados. No segundo ato, versos de maternidade. Germinam os grãos, frutificam os ventres de negras, palestinas, guaranis, mães-operárias; seios fartos jorram o leite que sacia a fome de seus rebentos. No terceiro, o amor. Mal vivido é faca fincada, pássaro que deixou de voar; satisfeito, é magma que derrama pela boca. Entre duas pessoas que se desejam e se entregam, células mortas, veias, cavidades, anatomias, mãos que tateiam profundezas, mas também ausências e ruínas. No quarto ato, pulmões tentam resistir. Amanhecem vazios. A finitude da vida tem aroma de alfazema e provoca dor. Só as formigas festejam."