A PERFEIÇÃO DOS AVESSOS

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Como se empreender qualquer travessia sem a palavra? Seja no leito zonzo-deslizante dos sustos silentes e dos interditos mais febris, seja na ponta afiada da “palavra-lâmina”, ler Elisa Ribeiro nos impele ao autoexercício de como se intitula: gastrópoda – a tudo recolher, gestar, encaracolar-se sobre si. A nós, cabe, com cuidado cirúrgico, furar essa casca fininha e perscrutar – com os dedos em brasa e o fôlego entrecortado – as tantas-meninas e quase-segredos, uma antimusa e suas cordas, a dama branca em rito frio e implacável. Na fogueira, lentamente coze a infância que se transmuta, a casa, o pai, o primo fantasmáticos, os desajeitos do amor e, às costas, admite a poeta: “um saco cada vez mais largo/ com as memórias dos meus mortos”. Na segunda parte da obra – Jardim de amores imperfeitos – é do fogo que brota a vida, feito Prometeu em sua sina maldita: “Se agrido corto/ é porque sei ser com força/ que se molda se forja/ a pedra bruta se faz arte/ se faz obra”. De modo especular, com apurado rigor rítmico-formal no seu livro-poema regido igualmente por metanarratividade e por laivos de autoficção e escrita de si, é na ancoragem dos paradoxos indeclináveis e da irresolutividade própria de nosso ser-estar em desalinho, que emerge, enfim, “a perfeição dos avessos”: “inventar mundos/ paralelos/ nomear bonecos/ soprar-lhes vida. / Depois, só muito depois, / talvez, ser lida.” Mas, não, por ora, e de imediato, assumida a travessia, não restaremos incólumes a este belo e agudo mergulho. 
 Luciana Barreto, professora e poeta


 
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