NO FIM DE MINHA CASA

Nas narrativas de Caio Matheus, a memória, a infância, o afeto e os sonhos se interrelacionam de forma esplendorosa. Em suas invenções, sejam de enredos ou de palavras, Caio nos transporta para momentos nostálgicos, mesmo aqueles não vivenciados, pois integram um conjunto de recordações espalhados por mentes e corações sensíveis a tantas vivências passadas ou atuais. O passado que também é presente. É assim que os enredos presentes neste livro talvez poderiam ser perspectivados.
Caio Matheus rememora, por meio de um trabalho linguístico em sua prosa, a escrita de Guimarães Rosa e Conceição Evaristo, ambos autores brasileiros importantes para pensarmos a literatura nacional, não somente por meio de seus enredos, mas igualmente pelo seu fazer estético-literário com o manejo poético das palavras e frases em ordens e configurações estranhas à primeira lida de um leitor desavisado, mas que logo imerge na leitura de contos e romances por meio de uma nova linguagem que só eles elaboram. Caio parece ser discípulo deles, mas, ao mesmo tempo, também autônomo no que realiza, pois suas imagens construídas metaforicamente são só suas, é sua obra tomando forma, é uma tradição literária transfigurada e reconfigurada, assim como o léxico e a semântica de suas palavras.